As crises democráticas e a instabilidade política que permeiam toda a região da América Latina são fenômenos entrelaçados, oriundos da junção de diversos fatores históricos, sociais e econômicos que moldam e modificam a dinâmica política da região e de seus países. Ressalta-se o legado da colonização ibérica, cujas consequências persistem até hoje, refletindo-se na desigualdade social, na concentração de poder e na intervenção das forças armadas nos processos políticos, aspectos que configuram desafios estruturais e dificultam a consolidação de instituições democráticas estáveis. 

Dessa forma, os Estados latino-americanos enfrentaram, e ainda enfrentam, desafios significativos na construção e consolidação de instituições democráticas internas robustas desde seus processos de independência. Somente nos anos 1990 e 2000 que a região experimentou a criação, sedimentação e consolidação de muitas das instituições democráticas presentes atualmente. 

Porém, a consolidação e a ampliação da participação popular, marca tão característica da região nos anos 2000, deu lugar a incertezas, restrição de direitos políticos, questionamento da legitimidade dos processos eleitorais e enfraquecimento das instituições nas décadas subsequentes. Seja na Venezuela, com a consolidação do chavismo, na Nicarágua, com a repressão violenta a manifestações populares, no Peru, com a tentativa de dissolução do Congresso pelo Presidente, nos Estados Unidos, com a deslegitimação do processo eleitoral e Invasão ao Capitólio e no Brasil, com os recorrentes ataques à credibilidade do processo eleitoral, que colocam em dúvida a integridade das instituições democráticas e ameaçam a confiança da população [4]. 

Dessa forma, não obstante os significativos avanços na consolidação democrática, as recentes instabilidades políticas reafirmam a necessidade de refletir sobre a relação intrínseca entre as recorrentes crises democráticas que assolam o Novo Mundo. Conclui-se, assim, que tais episódios evidenciam a imperiosa necessidade de fortalecimento das estruturas democráticas e da implementação de mecanismos jurídicos que assegurem a proteção dos direitos políticos, a legitimidade dos processos eleitorais e a preservação do Estado de Direito.